Parece redundante , mas nossa vidinha é realmente imprevisível. Confiamos muito que nosso dia se repetirá mais ou menos como o anterior...ledo engano.
Relato de uma tarde diferente:
Saio tranquilamente do meu trabalho com meu excelentíssimo ao volante. Um pouco abaixo da Monalisa,no Paraguai, em velocidade bem pequena (por sorte), eis que surge do nada uma senhora de cabeça baixa em plena avenida na frente do nosso carro. Barulho...susto....o Rada (lê-se meu marido) pára o carro e eu fecho os olhos, não saio do lugar. Em segundos a multidão se aglomera ao redor da "vítima" . Eu ainda sem coragem de ir olhar, deixei que o Rada visse o que realmente aconteceu, qual era a gravidade. Somente quando ouvi ele falar que foi só no pé, tomei coragem e fui ver as consequências da batida. Sangue não havia, mas a pequena senhora, que já tinha uma deficiencia física de nascença gemia de dor deitada no asfalto. O Rada não sabia o que fazer, porque a princípio não sabia se era paraguaia e se o correto era chamar um socorro para não piorar a situação ao mexer nela de maneira errada. Até que ele acordou, estava em CIUDAD DEL ESTE, lá não tem SIATE, infelizmente. Nesse momento chegou a única parente daquele senhora que tinha visto toda a cena e já chegou exclamando: "Mariazinha, por que vc se afastou de mim, vc sabe que não pode andar sozinha, eu vi vc entrando na frente do carro!" -gritava.
Nisso, ajudados pela parentesca colocamos Mariazinha no carro e fomos para o Hospital Costa Cavalcante. Lá procuramos atendimento do Sus, mas logo recebemos resposta negativa, então a encaminhamos particular mesmo.
Ficamos lá esperando o resultado do raio x, porque na verdade estávamos confiantes que seria apenas uma torção, até pelo comportamento da vítima que parecia controlada. Mas o resultado foi bem diferente: Mariazinha quebrou o tornozelo, era tudo muito mais sério do que esperávamos. O que parecia ter hora marcada pra acabar, começou alí.
Procuramos saber quem era exatamente Mariazinha: Uma senhora de 38 anos, do Maranhão, que enfrenta todo mês umaviagem longa de excursão , para comprar uma em torno de R$ 3000 de isqueiros e outras quinquilharias para revender no interior do Maranhão a fim de sustentar a avó e um sobrinho que moram com ela.
Mesmo diante do diagnóstico preocupante, pois somavam-se aos problemas que ela já tinha, como osteoporose, o choro passou a ser de desespero para voltar pra casa e poder dar continuidade ao comércio que lhe rendia uma renda mínima,mas totalmente fundamental.
O médico nos deixou claro que com as condiçoes de Mariazinha , facilmente ocorreria uma trombose no local e o perigo de perder a perna era eminente.
Diante dessa afirmação, meu marido a internou e na mesma noite foi feita a cirurgia. Ela está se recuperando bem e logo deve retornar à sua rotina.
Conviver com tal situação faz qualquer um refletir sobre as diferenças sócio-econômicas, sobre os sacrificios que alguns precisam fazer para sobreviver. Deprimente, ver aquela pessoa que mesmo antes do episódio nos envolvendo, necessitava de cuidados especiais, levando uma vida daquela. E a maior preocupação dela era sempre voltar pra casa e principalmente continuar com suas atividades.Não saber que existem milhares de Mariazinhas no Brasil seria muita alienação, mas acompanhar todo o fato é bem diferente de discursos imaginários sobre essas duras realidades.
Mariazinha do Maranhão, uma figura que mudou a nossa e a própria rotina em segundos, está se recuperando. Estamos fazendo todo o possível pra isso. E se esse episódio tiver uma continuação importante, relatarei futuramente nesse blog.
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2 comentários:
Nossa amiga .. esse texto é de se emocionar ...
O que mais me chama a atenção é comprovar mais uma vez o quanto o coração seu e do teu marido são enormes... Legal saber que mesmo estando certos vcs não deixaram de prestar toda a atenção necessária .. Cade dia que passa me surpreendo mais e mais com vcs!!
Bjussss e muita sorte
Essas lições nos ensinam apenas a sermos mais fortes .. Por isso eu digo .. Vamos aproveitar cada minuto como esse fosse o ultimo de nossas vidas ..
Edla! Lindo o gesto de vcs!
Com certeza muita gente já cruzou com algumas 'Mariazinha' e nao teve o cuidado e a ateção que vc e seu marido tiveram, Acho que a gratidão dela por vc, não há nada nesse mundo que pague!
Prá lá de bom!
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