quarta-feira, 19 de setembro de 2007

SONHAR NÃO CUSTA NADA

Edla Mattoso
Buscar a notícia através de entrevistas, imagens e todo o aparato necessário para se fazer uma matéria. Ao redigir o texto despejar toda a informação principal logo no inicio, com a responsabilidade de prender a atenção do leitor. Essa é a função do jornalista que, comparada com o texto do antropólogo, apresenta o grande contraste do lead, marca registrada do jornalismo e recurso ignorado pelos antropólogos.
O parágrafo acima é praticamente um lead quando se propõe a responder as seis perguntas: o que, quem, como, quando , onde e por quê? A expressão é inglesa e significa "guia", o que vem na frente.
Escolhi o tema lead, ou lide, ao ler o artigo científico da mestra em Antropologia Social Isabel Travancas, principalmente pela afirmação: “o lide não deve ser visto como uma “camisa de força” para o repórter”. O termo faz sentido e me fez lembrar as narrações de colegas e inclusive professores sobre a dura realidade de vários jornais diários, onde a melhor notícia é aquela que vai vender mais e não aquela que exigiu um maior esforço do repórter.
Conseguir produzir um texto com lead conciso e direto é qualidade valorizada no profissional de jornalismo. Mas não seria possível emprestar um pouco da flexibilidade do antropólogo, fugir do lead e mesmo assim escrever para o público de um jornal diário?
É verdade que o inicio de um texto, feito de maneira mais literária, poderá ser classificado como "nariz de cera", expressão que significa excesso de informações secundárias que não tem a ver com o assunto. Essa concepção pode encontrar explicação no padrão imposto pelos próprios profissionais ao acostumar o leitor a um texto simplesmente narrativo. Por isso é engano pensar que seria fácil. O empenho do profissional deveria redobrar como explica o professor doutor em comunicação Toni Sharlau: "A questão é que dá mais trabalho de preparação e execução. Além disso, os sabidões do jornalismo acreditam que o público não gosta desse tipo de conteúdo"-enfatiza. Sharlau acredita ser uma questão principalmente de negativa em investimentos. Primeiro em deixar que o repórter seja efetivamente o criador e segundo, em equipamentos, carros, tempo. "As matérias factuais comuns podem ser feitas por um repórter que realiza três ou quatro pautas por dia, uma matéria especial ou mais bem trabalhada teria um repórter envolvido em três ou quatro dias de trabalho!" - finaliza.
O site
http://www.textovivo.com.br/ da ABJL(Associação Brasileira de Jornalismo Literário) apresenta possibilidades de aplicação dos métodos e técnicas do Jornalismo Literário(JL) a partir de análises de periódicos(jornais e revistas) de grande circulação e inclusive em assessoria de comunicação.O nome do site me fez refletir se os textos feitos às pressas nos jornais diários, ávidos por chegar na frente , estampar a melhor foto, visando simplesmente a venda, não estariam realmente mortos. Mortos para a literatura, para a vontade realmente de pensar, de fugir do comum.
Acredito que a solução seja mesclar um pouco do pesquisador viajante (antropólogo) com o habitante da cidade (jornalista) e escrever tanto para o novo consumidor (aquele que embrulha o peixe com o jornal após lê-lo) como para aqueles que preferem um texto mais aprofundado. Os adeptos do jornalismo literário não devem contentar-se com o prazer rápido e imediato que começa na linha fina e acaba junto com a pirâmide invertida.
Podem me chamar de estudante sonhadora, alheia às exigências dos objetivos comercias de quem um dia poderá me contratar. Mas registro aqui a minha vontade de ver textos menos comerciais e mais elaborados, mesmo com menos tempo e menor flexibilidade do que o antropólogo, mas com a mesma vontade de mostrar o diferente. Tudo isso sem sair de sua sociedade, mas aberto a enxergar muito mais do que a realidade estampada em 20 segundos de um lide.
O tema rendeu-me uma indicação de leitura que divido agora com meus colegas: “A leitura social da novela das oito” da doutora em antropologia Ondina Fachel Leal.

texto opinativo da disciplina de Antropologia Cultural.

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